quinta-feira, 16 de julho de 2009

LENDA: A NOIVA DO TRAPICHE

Trapiche é um lugarejo. Lá morava Rosinha, numa casa modesta. Naqueles dias estava muito aflita, pois se aproximava o dia de seu casamento com Joaquim. Passou a semana toda envolvida com os preparativos, pois haveria uma festança, na qual viria gente de todos os arraias próximos. Rosinha era uma moça muito querida na vizinhança.
Finalmente o dia tão esperado chegara: o dia do seu casamento. Logo após o casamento, todos dançavam alegremente e comiam fartamente. A festa ia adiantada, os convidados alegres, pelo copinho de pinga que passava de vez em quando na sala. A harmônica com seu vai e vem soltava um chorinho no ar. O som animado esquentava o pessoal. Os tabuleiros de cocada, doce de mamão, broa, doce de cidra, rapidamente eram esvaziados e logo substituídos por outros servido pela mãe da noiva.
A noiva estava linda com seu vestido de noiva branco de tafetá, o véu brando emoldurava seu rosto singelo. Parecia até uma santa.
Já era quase meia noite, quando o noivo propôs a noiva:
-O carreiro já está aí e o baú já está no carro. Vamo amô? Já está ficando tarde.
A noite estava estrelada e a apontava brilhante lá no alto do céu.
No caminho eles conversavam:
-Ocê gosta mêmo de mim?
Oia Rosinha, eu tenho um ciúme danado de ocê. Quando te via de mão dada com o João, o meu coração começava a pular e o sangue a frevê e sentia uma quentura que ia até as oreias. Agora não te deixo botar o pé fora da porta da cozinha.
-Uai! Joaquim, que negócio é esse, iante da gente casá, ocê não dizia isso, tô acostumada ir todo sábado a ladainha, num vô deixa de i mêmo, num é?
-Ah, desgraçada, traçuera dus infernu, eu qui confiava tanto ocê, creditei tudo que ocê me falo.
Formou-se uma briga, até que o noivo nervoso, perde a cabeça e apunhala sua noiva.
-Ai meu Santo Antoin, que fui fazê? Agora, fiquei sem ela por ciúme. Tanto que eu pedi a Deus que chegasse esse dia, do nosso casamento. Vô sumi pelo mundo afora, nunca mais vorto nessa terra que me desgraçô a vida.
Muitos anos se passaram, mas essa triste história de amor não foi esquecida, porque sempre tem uma noite linda como aquela que a lua cheia, fazendo suas sombras surgirem atra´s da mata, como se fossem fantasmas tremulando pela estrada, aparece Rosinha, no seu vestido de noiva branco, com seu rosto lindo e pálido sobre o véu de núpcias, e o coração cheio de saudade e mágoa a procura do ingrato amado, que nunca mais apareceu. Se nessa hora passar um caminhão, ela entra de mansinho, silenciosa e senta ao lado chofer e viaja por um pedaço de estrada.
Nada diz, nada pergunta, desaparece misteriosamente como surgiu, deixando na lembrança do viajante esta figura lendária, resultado de um infeliz amor.

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