Bota dois tostões de pinga moço!
Vira o copo de uma só vez. O cuspe que lhe sai da boca, salta longe.
Os homens que estão encostados no balcão escuro e seboso se apertam um pouco a mais e miram de cima para baixo a figura alta, masi alta que qualquer um deles. Vontade tem de provocar, mas respeitam a cara séria da mulher.
Luzião é mulher - macho!
Esfarela o fumo de rolo na palma da mão antes de botar dentro da fita de papel arrancada da cartelinha vermelha. Sua carapinha é rossa e compacta, sai de chapéu encardido. Segura o pito por baixo da mão em concha, dedos compridos e nodosos, de unhas sujas e crescidas.
Entre cada baforada, um olhar escuro e mau. Tem aspécto feroz e seblante triste.
-Será mesmo que ela é mulher?
Quando mais nova, deu nova luz a uma criança, porém de figura alta, ossuda, seus pés de grandes calcanhares para trás e dedos esparramados, nada disso evidenciam.
Ninguém vê, mas todos sabem que a mulata tem uma faca escondida entre as dobras da saia grossa. Essa faca já deixou um homem estendido morto, depois de uma briga por nada. Por isso mesmo, ninguém puxa conversa com Luzião; todo mundo conhece sua fama.
Que tamanho terá a ferida que te fez ficar assim Luzia?
Esse ar de rancor contra a gente, resultados de tantos calos com que a vida te marcou, um dia foi menos rude a ponto de ter posto no mundo o fruto de algum triste amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário